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segunda-feira, 30 de junho de 2014

Em frente do Passado






Quase nada havia mudado. Tudo no mesmo lugar. Também como mudaria se no dia que partiu deixou o que era estático, imóvel, como quem trancafia tudo em um freezer, a não ser o pó, que chega sem avisar e preenche o mais vil dos espaços. Buscava algo, ainda não sabia o que era, afinal, estava ali, fazendo o quê? se questionava.  Olhava da varanda a sala e nada tirava a expressão fantasmagórica, expressão antagônica a um tempo esquecido. Ao menos queria que fosse assim.  Seu olhar  dava ares de rejeição.  Um misto de impotência e desespero. Fazia um esforço descomunal para conter o que sentia.  JOÃO PEDRO, sim, ele,  caminhava pelo quintal. Parou em frente a uma cadeira. No chão algo lhe chama a atenção. Eram restos de um tempo esquecido. Um papel de bala. Deixou o papel para lá [...]  A casa estava fechada. Há tempos não aparecia. Aproveita o momento e se joga na cadeira. Lembranças confortantes vinham numa simbiose. Seu corpo aplaudia com empolgação a manifestação  que lhe percorria. E, em um instante como quem  toca no corpo de uma  mulher, ele lentamente desliza a mão sobre o assento. Lembranças do que era para serem  esquecidas o bombardeava por dentro, numa terrível guerra de lamentos. Sente vontade de vomitar... Foi sentado nessa cadeira que teve a visão do que parecia eterno,  puro e verdadeiro.  Percepção de uma viagem, talvez ácido, não lembra.  Nesse momento,  sua respiração se faz profunda, dosada com a angustia que permeia o momento. Fez juras Implorando ao arrependimento esquecer, pois aquela decisão fora  em termos de conveniência a melhor escolha.    Olha em volta e lhe é forçoso confessar  como era agradável estar ali. Tempos atrás, no apartamento, esse era o lugar que mais  gostava de estar. Não sabia dizer ao certo quando isso ficou esquecido ou sabia, mas era necessário apagar  o que vivenciara. Como uma fruta ressequida,  a terra seca havia tomado o lugar do tesão que tinha em passar horas ali sem  se preocupar.   Com os dedos, esfrega os olhos.  Chora. Amarga recordação. O doce que tinha por anjo, se vendo abusada por seus próprios enganos, sentindo o ar, preferiu voar.
 (flashback - a volta do que era medo) 
João Pedro:  Ana, pra nós não há mais saída!
Ana: só se for pra você
E como numa sinfonia em câmera lenta ela se joga em poesia do quinto andar.
Infeliz criatura que sou. Alvo da corrupção de um mundo, onde quem sabe, talvez,  da morte,  após três dias  me fará regenerar. 








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